Pagamentos em Portugal: o protagonismo crescente do digital
A estonteante velocidade do desenvolvimento tecnológico e a crescente digitalização das economias, impulsionadas pelo ‘empurrão’ dado pela pandemia, estão a alterar profunda e rapidamente o mercado dos pagamentos. Ao mesmo tempo, o uso do dinheiro físico tem caído a pique, ainda que existam ainda algumas resistências, quer de consumidores quer de muitos comerciantes. O cartão bancário é preponderante entre os meios de pagamento eletrónicos e as novas estrelas são o MBWay e a tecnologia contactless, sobretudo esta última, que tem tido grande adesão de particulares e comerciantes. O recurso ao MBWay é já o meio de pagamento privilegiado junto das camadas mais jovens de consumidores.
Os últimos dados do Banco de Portugal revelam, de resto, que, em 2022, o uso de meios alternativos ao numerário e aos cheques voltou a crescer. Só nos pagamentos contactless a subida ultrapassou os 50%.
Houve também um aumento significativo nos pagamentos. No retalho português, foram processados 3,7 mil milhões de operações de pagamento, no montante total de 655,5 mil milhões de euros, o correspondente a uma subida anual de quase 21% – em quantidade – e de 16% – em valor. Estes números traduzem um processamento, em média, de 10,2 milhões de pagamentos por dia.
Com os meios digitais a ganhar terreno de forma tão significativa nos hábitos dos portugueses, empresas e comerciantes são obrigados a adaptar-se para acompanhar a tendência. Até porque, ao contrário da transição que as gerações mais velhas estão a ter de fazer, as novas pouco conhecem de outra realidade que não seja a da era digital.
Novas tecnologias, novos hábitos
Menos cheques e menos dinheiro físico, mais pagamentos eletrónicos, com cartão ou à distância. É este cada vez mais o cenário vivido em Portugal e em boa parte do restante mundo ocidental. O movimento de mudança mais impressionante está a dar-se ao nível do recurso à tecnologia contactless (cartões ou dispositivos móveis). A pandemia impulsionou os pagamentos à distância, na altura por motivos de saúde pública, e os vários agentes do mercado estão a incorporar esta prática nos seus hábitos e preferências. Em 2022, também de acordo com os dados do Banco de Portugal, os pagamentos contactless cresceram 58,6% – em quantidade – e 65,7% – em valor – por comparação com 2021. O valor médio por transação rondou os 25 euros, quase o dobro do que se verificava antes da pandemia, e o peso do contactless no número total de compras com cartão é já de 48,8%, versus 8,2% antes da pandemia. Mais de 60% das compras pagas com esta tecnologia foram feitas no retalho, seguido da restauração (22%). Também as compras online com cartão aumentaram, tanto em número (24% de subida), como em valor (32%).
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Numerário ainda prevalece como meio mais usado para pagamentos
Quando olhamos para a preponderância de cada tipo de meio de pagamento no bolo de transações feitas, o numerário permanece a principal opção de pagamento. Não só em Portugal, como na generalidade da Europa. Nos vários levantamentos estatísticos que vão sendo feitos sobre os hábitos de pagamento no espaço europeu, é consensual que a maioria ainda prefere ter a opção de pagamento com dinheiro físico. Não só para protegerem a sua privacidade, mas também para terem uma maior consciência das despesas que fazem.
Seja como for, a trajetória tem sido decrescente e, no nosso país, a um ritmo até superior ao dos seus pares europeus. A substituição de levantamentos de numerário por compras com cartão continua também com uma tendência decrescente. O mesmo acontece com os cheques. Seja como for, em países como Portugal, o dinheiro físico ainda é aceite em 95% dos locais de pagamento presencial.
Já quando falamos de pagamentos no retalho sem recurso a numerário, quase 90% das operações deste tipo fazem-se com cartão, responsável por uma média de nove milhões de pagamentos por dia. Aqui estão incluídos não apenas os pagamentos presenciais, mas também os débitos diretos, as transferências a crédito ou as transferências imediatas. O cenário é de crescimento da utilização deste meio de pagamento. No que diz respeito às transferências imediatas (caso do MBWay), o crescimento está a ser exponencial (34,3% em número e 54,4% em valor), mas o peso no bolo total ainda é pouco expressivo. Ainda assim, os analistas deste setor acreditam que o pagamento por telemóvel (e outros dispositivos) será, no prazo máximo de cinco anos, o método eleito pelos portugueses.
Um aspeto curioso e que poderá até justificar a reflexão dos comerciantes nacionais é o facto de a maior parte das compras online realizadas com cartões nacionais ocorra em comerciantes localizados fora de Portugal, tanto em número (66%) como em valor (65,9%).
Segurança nos pagamentos
Visível também nos levantamentos estatísticos que vão sendo realizados, é a crescente de sofisticação tecnológica da fraude que constitui uma nuvem que paira sobre este mundo dos pagamentos e que pode atrasar a conversão de muitos consumidores aos meios digitais.
Ainda assim, e de acordo com o Banco de Portugal, a fraude na utilização de instrumentos de pagamento eletrónicos em Portugal mantém-se muito reduzida. Seja como for, em 2022, o Banco de Portugal registou 55 incidentes de caráter severo que afetaram 1,9 milhões de utilizadores e levaram à não execução de 3,7 milhões de transações, num valor total de 975 milhões de euros.
Os mecanismos de engenharia social (phishing e outros), em que os infratores conseguem apropriar-se das credenciais de segurança do utilizador ou dos seus elementos de autenticação forte, são as fraudes mais comuns.
À semelhança do que aconteceu em períodos anteriores, os canais mais afetados por este tipo de incidentes foram o homebanking e o mobile banking. Nas operações com cartões, o valor médio por operação fraudulenta ronda os 45 euros, tendo ocorrido 242 operações fraudulentas por cada milhão de operações com cartão. Nas transferências a crédito atingiu-se um valor médio por transação fraudulenta de 4059 euros e uma incidência relativa de cinco em cada milhão de operações. Nos débitos diretos, o valor médio da fraude é de perto de 500 euros, e registou-se apenas uma operação fraudulenta por cada milhão de operações.
Muitas empresas e comerciantes têm vindo a apontar o dedo às falhas que consideram existir em Portugal e ao respetivo efeito na redução do seu nível de competitividade face a outros países. Num mundo em que a concorrência se dá cada vez mais à escala global, criticam a falta de dinamismo do mercado português de meios de pagamento, a reduzida diversificação das soluções existentes, a baixa inovação e os elevados custos associados.
Mas as mudanças continuarão em ritmo acelerado nos próximos anos, fruto da própria velocidade a que a inovação tecnológica se está a dar. Entropias à parte, como sempre acontece quando falamos deste novo mundo digital, nenhuma empresa poderá ficar de fora das transformações que estão a acontecer nos pagamentos se quiser manter-se competitiva e vingar nos seus mercados de eleição.
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