Gestão da cadeia de distribuição: O futuro é agora
Com resiliência, agilidade, adequada gestão de riscos, recurso aos benefícios das novas tecnologias e uma aposta na sustentabilidade, é possível vingar mesmo em momentos de tempestade.
Com as possibilidades trazidas pelas novas tecnologias, o acesso a grandes volumes de dados, a necessidade de novos modelos operacionais, a maior exigência sobre a mão-de-obra, a par de um contexto geopolítico e económico de grande instabilidade, impõe-se que a gestão da cadeia de distribuição abrace o futuro e invista na inovação.
Numa altura em que a disrupção é a palavra de ordem, as empresas serão tanto mais bem-sucedidas quanto mais capazes forem de dar resposta e adaptar-se, fazendo as mudanças necessárias e, se possível, sendo elas próprias motores de mudança.
As novas tecnologias fazem parte crucial deste futuro, claro, mas sobretudo enquanto instrumentos de transformação. Fazer uso da inovação tecnológica é um passo inteligente para uma gestão mais otimizada e eficiente da cadeia de distribuição, mas a mudança de paradigma far-se-á a outro nível.
No passado, o modelo operacional das cadeias de distribuição estava desenhado numa lógica ‘de dentro para fora’, assente nas capacidades do negócio e na eficiência. No novo modelo, a lógica será cada vez mais de ‘de fora para dentro’, na medida em que as empresas têm de acompanhar e, se possível, antecipar as necessidades dos clientes e as mudanças no mercado e agir em consonância.
Tal implica que as empresas possam ter uma visão completa e abrangente da cadeia de distribuição e a capacidade de tomar decisões informadas e rápidas para melhor responder ao mercado e com bons resultados para o negócio.
Por outro lado, em lugar de estruturas rígidas e capital intensivas, cada vez mais se falará de sistemas que se modelam às exigências do momento, apoiadas pela terceirização do que não é ‘core’. As cadeias de distribuição querem-se ágeis e resilientes para poderem acompanhar as rápidas e permanentes mudanças no mercado e focadas não apenas nos objetivos financeiros, mas também na sustentabilidade.
O desafio está ainda na capacidade de o fazer com sucesso, mesmo em contextos de tempestade perfeita como aquele que atualmente vivemos.
Aferir riscos e implementar medidas de contingência
Como em tantas outras áreas dos negócios, também na gestão da cadeia de distribuição, a capacidade de antecipar o que aí vem e, assim, agir de uma forma preventiva e não reativa é muito importante.
Tal passa por ter uma noção clara e fidedigna das vulnerabilidades da cadeia de distribuição da empresa. Entre fornecedores, processos ou infraestruturas, há que perceber, por exemplo, onde estão os potenciais pontos de falha, que matérias-primas ou recursos que sejam críticos para o negócio podem ficar em risco de escassez ou particularmente expostos à volatilidade dos preços. O mesmo se aplica à liquidez, capacidade creditícia, nível de supervisão, investimento na cibersegurança, medidas de proteção de dados ou exposição do negócio a eventos climáticos são algumas das áreas onde importa perceber se existem vulnerabilidades.
Identificadas as vulnerabilidades, há que transformar essa ‘radiografia’ em mudanças concretas que permitam depois atuar preventivamente em lugar de ter de reagir quando o facto já está consumado, que é como quem diz, quando surge um evento disruptivo.
Tal passa, nomeadamente, por ter, de preferência, uma equipa dedicada a estas matérias que possa identificar riscos, efetuar mudanças e reforçar a capacidade de resposta. Poderá, nesse contexto, ser necessário efetuar mudanças estruturais na cadeia de distribuição, mas também pôr de pé bons planos de contingência. Planos esses que não podem ser rígidos e imutáveis, já que tão pouco é estanque a realidade e os desafios que vão surgindo.
O resultado deste tipo de políticas deverá ser uma cadeia de distribuição mais resiliente.
Eficiência e agilidade
Os tempos de hoje exigem novas formas de fazer distribuição. As cadeias tradicionais assentavam sobretudo na estabilidade e na minimização de custos. A fidelidade do cliente deixou há muito de ser um dado adquirido e as novas cadeias de distribuição querem-se dinâmicas e capazes de prever, preparar e responder a uma procura em rápida e permanente evolução.
Por outro lado, é da maior relevância que exista uma gestão adequada de stocks para evitar perdas de negócio desnecessárias ou write-downs em grandes dimensões, o que passa por uma melhor adequação entre oferta e procura. Impõe-se, nesse sentido, tirar cada vez mais partido da informação que os dados fornecem para estimar tendências e prever de forma mais rigorosa as variações no consumo. Isto trabalhando sempre no pressuposto de que o historial de procura já não pode ser a única fonte de planeamento e antecipação de necessidades, tendo em conta o acentuado nível de volatilidade que o mundo hoje vive.
Uma atividade mais sustentável
Não só pelos potenciais benefícios na fidelização dos clientes, mas também para uma gestão mais eficaz dos riscos de reputação, a sustentabilidade deverá estar no centro das preocupações das empresas e tal política não pode deixar as cadeias de distribuição. Tal aplica-se, nomeadamente, a temas como a governance, a justiça social e o impacto ambiental da atividade. Exemplo disso é, por exemplo, o apuramento e minimização das emissões geradas pelas atividades inerentes à cadeia de suprimentos, como é o caso da escolha de formas de entrega mais sustentáveis.
As cadeias de distribuição sempre foram vulneráveis a momentos de disrupção, seja no sentido negativo seja positivo. Mas esta não tem de ser uma inevitabilidade.
Com resiliência, agilidade, adequada gestão de riscos, recurso aos benefícios das novas tecnologias e uma aposta na sustentabilidade, é possível vingar mesmo em momentos de tempestade. Uma coisa é certa: o ‘business as usual’ já não é uma opção.