SI à inovação apoia projetos com estratégias de diferenciação
Segundo informação da Autoridade de Gestão do COMPETE 2020, a 31 de março verificava-se uma taxa de compromisso dos Sistemas de Incentivos (SI) destinados às empresas do Portugal 2020 de 145,6%, uma taxa de pagamento de 81,1% e uma taxa de execução de 71,2% em relação à dotação indicativa de 4382 M€.
O Ministério da Coesão Territorial indicou recentemente estar em preparação o último aviso para empresas no Portugal 2020 para o SI Inovação Produtiva. Estão em causa apoios num total de 400 milhões de euros, que serão financiados pelo Compete 2020 e pelos programas operacionais regionais Norte, Centro, Alentejo, Algarve e Lisboa. Visam apoiar mil milhões de euros de novos investimentos na inovação produtiva de micro, pequenas, médias e grandes empresas.
Perante esta notícia, e porque o SI à Inovação e Empreendedorismo representa quase 60% dos SI destinados às empresas, pode ser relevante saber quais os fatores que determinam um bom projeto nesta fase final do Portugal 2020.
Com tantos exemplos disponíveis desde 2015, por onde começar?
Olhando para o Boletim pode ser interessante considerar as atividades económicas mais representativas no que diz respeito ao incentivo aprovado.
No Agrupamento Setorial (denominação usada nos boletins informativos do Compete 2020) “Metálica”, apresento o caso de uma empresa com atividade na Indústria metalúrgica que pretendia fabricar produtos de alta qualidade e valor acrescentado.
A principal ambição estratégica era assegurar a presença da empresa em mercados avançados e sofisticados, onde estava a maior parte das empresas dos setores que a empresa fornecia, nomeadamente: indústria de componentes automóveis, indústria metalomecânica, indústria de mobiliário metálico, indústria de materiais e equipamentos de construção e indústria de infraestrutura de telecomunicações.
A empresa faturava 15M€ em 2015 e pretendia investir 3,5M€ entre 2016 e 2017. O investimento produtivo centrava-se no aumento da capacidade e na reconfiguração do processo produtivo permitindo aumentar a flexibilidade para responder rapidamente, com produtividade e rentabilidade, às solicitações dos clientes, permitindo a incorporação de especificações de produto. Este fator constituía a principal vantagem competitiva da Empresa, permitindo a sua diferenciação da concorrência nacional e internacional que não tinha esta capacidade.
Com o projeto pretendia-se também minimizar os custos operacionais e de subcontratação, decidindo sempre no sentido da sua racionalização, e aumentar a eficiência energética. O objetivo era satisfazer as necessidades específicas de cada cliente, maximizando o potencial dos equipamentos, colaboradores e instalações de modo a aumentar a rentabilidade e diminuir os custos associados, dotando a Empresa de vantagens competitivas ao nível da versatilidade, qualidade, rapidez e produtividade.
O projeto obteve um incentivo de 2,5M€ e à data já é possível avaliar o impacto. Em 2019, a faturação ascendeu a 28M€, superando em muito os 17M€ estimados no estudo de viabilidade; o VAB superou também em muito o estimado. Também no que diz respeito ao emprego altamente qualificado se verificou um aumento significativo.
Paralelamente ao âmbito produtivo, e de forma coerente com a sua estratégia de atuar em mercados geográficos exigentes, a empresa investiu também em ações de internacionalização.
Este é um exemplo concreto, mas revendo vários dos projetos desde 2015 verifica-se que, para se ter um projeto ganhador há que começar por fazer algumas perguntas, que conduzem a um conjunto de análises, antes de se terem as respostas e, com elas, a definição das opções estratégicas. Já que a base tem de ser garantida: um projeto de investimento tem de ser coerente com a estratégia da empresa.
Normalmente, a Empresa começa por ter uma perceção do mercado em que ambiciona atuar: que outros mercados setoriais e geográficos podem usar os produtos existentes, que adaptações devem ser incorporadas para que os produtos possam ser usados nesses mercados, quanto valem esses mercados; quais os concorrentes, que competências têm e o que fazem de diferente da minha Empresa? Verifica-se uma ambição de atuar em setores e geografias mais concorrenciais, com produtos mais valorizados economicamente.
E quanto à equipa, tenho pessoas com as competências necessárias em todos os âmbitos de intervenção? A minha equipa permitir-me-á distinguir tecnicamente da concorrência?
Que adaptações preciso fazer à minha produção, à minha organização e à minha equipa? Tenho capacidade financeira para fazer o investimento necessário?
A resposta a estas questões conduzirá a decisões sobre a atuação da empresa e à definição das suas opções estratégicas com a identificação clara dos seus objetivos SMART para o curto e médio prazo.
Assim, um projeto de investimento ganhador é o que é coerente com estratégias assentes em diferenciação tecnológica, flexibilidade ou produtividade, ao contrário da diferenciação por preço. Das estratégias ganhadoras consta a diferenciação em mercados setoriais e geográficos diversos e exigentes; e consta ainda a aposta numa equipa com competências distintivas para responder às necessidades evolutivas do mercado.